Josana Salles*
Com a seca prolongada, os rios estão cada vez mais baixos e já não existe mais locais com água dentro da floresta para os animais. Em meio a essa verdadeira tragédia ambiental que vive o Brasil, quem vive o dia a dia nas áreas verdes tem assistido os bichos silvestres fugindo do fogo e atordoados em meio a fumaça. Recentemente, o governo de Mato Grosso se recusou a dar soluções práticas para levar água aos animais do Pantanal e proibiu Ongs de levar água aos bichos. Mas será que é tão difícil assim resolver o problema e proteger a fauna?
Na Chapada dos Guimarães, o grito desesperado das araras foi destaque nas redes sociais quando o fogo atingiu os ninhos nos paredões. Alí perto, na reserva Jamacá das Araras, uma solução bem simples resolveu o problema de água não só para as araras vermelhas grandes (Ara chloroptera) como para inúmeras outras aves do cerrado.
“Identificamos dois buracos naturais em duas árvores, onde junta água da chuva e agora colocamos água na seca”, conta o proprietário da área, Mario Friedlander.
Uma simples observação tem salvado a vida de mais de 30 espécies de aves que estão frequentando o bebedouro natural: Araçari-castanho, Araçari-de-bico-riscado, Tucano-do-bico-preto, Tucano-açu, Arapaçus, Pica-pau-de-barriga-vermelha, Picapau loiro, entre outros.
Na Amazônia de Mato Grosso, as Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPNs) Cristalino, também encontraram soluções baseadas na observação e reproduziram pequenos lagos ou poças dentro da mata.
O biólogo Bruno Castello (@brunocastelowildlife) percorre todos os dias as trilhas nas RPPNs e observou por semanas uma fonte de água bastecida com água corrente que tem ao lado uma espécie de saleiro onde os queixadas (Tayassu pecari) costumavam se banhar e tomar água.
Bruno literalmente colocou a mão na terra. Abriu um pequeno espaço ao lado da fonte e montou uma barragem em volta com pedras para manter a água livre de lama. Jogou areia, depois um pouco de lama e cobriu com folhas. Em volta manteve folhas, galhos e cipós, para ajudar os macacos a descerem no laguinho.
Bimba! Todos os dias, pela manhã e no final da tarde, o local recebe água limpa e os bichos se refrescam no laguinho.
Antas, veados, jacamim, tatu-galinha, queixadas, aves, cutias, jabutis, macacos, veados e muitos outros animais estão utilizando o local. Bruno tem monitorado e listado todos os animais que visitam o local.
Pocinhas existentes em toda a extensão das RPPNs
Há muitos anos, o guia local, Francisco Carvalho já tinha implantado pocinhas em vários lugares das RPPNs Cristalino, onde aves raras banham e tomam água. Com a estiagem forte e prolongada que atinge a Amazônia nos últimos anos, elas estão servindo de bebedouro para outros bichos.
*Josana Salles é jornalista, colaboradora dos 3 Biomas.