Multado e debochado: o tiktoker que desafia o Ibama em terra indígena; veja o vídeo

Por Adriana Mendes

Com uma motosserra na mão e embrenhado na mata, Fábio Rodrigues, o “Fabinho”, se apresenta no TikTok como “o melhor de Mato Grosso” no corte de toras de grande porte de madeira. Nos vídeos, exibe troncos imensos já derrubados, e mostra também árvores centenárias que exigiram várias pessoas para abraçar. Em busca de ser um “influencer digital”, mesmo já com multas do Ibama por desmatamento irregular, publicou vários conteúdos que desafiam a fiscalização divulgando sua localização.

“Hoje estou aqui em Pontes de Lacerda, Mato Grosso, em Sararé 14. Só pesquisar aí (…) e todo dia à tarde, estou lá no quatro, no botequinho tomando uma cervejinha”, comentou de forma debochada no vídeo. “Bora para cima pegar seguidor”, finaliza.

Sararé é uma área indígena de 67 mil hectares na região da Amazônia Legal de Mato Grosso, que sofre com desmatamento e uma intensa exploração de garimpo ilegal. De agosto a outubro deste ano, a região foi alvo de uma megaoperação coordenada pelo Ibama e forças de segurança para retirada dos invasores da área.

Questionado pela reportagem sobre o vídeo gravado em Sararé, Fabinho afirmou, por telefone, que tudo não passou de “uma brincadeira de TikTok”, feita porque queriam saber seu endereço. “Eu moro aqui perto de Sararé… falei que estava dentro de Sararé para assustar”, declarou. No entanto, moradores da região afirmam que ele atua na exploração e retirada ilegal de madeira na terra indígena.

Em agosto de 2025, ele foi autuado por desmatamento na Terra Indígena Pequizal, em Conquista d’ Oeste (MT), por explorar madeira de floresta dentro da área. A ação constatou 43 metros cúbicos de madeira nativa, cerca de um caminhão e meio carregado.

Fabinho não demonstra nenhum receio de ser flagrado. Em fevereiro deste ano, postou um vídeo para o “resgate” de tratores CBT e equipamentos que foram queimados em operações de fiscalização das forças de segurança na região. “Esse aqui foi a polícia que queimou e esse outro foi o próprio dono que não sabe trabalhar que colocou fogo”, disse relatando que os equipamentos estavam há dois anos abandonados na área. Comenta ainda que para recuperar o CBT teria um gasto de R$ 50 mil.

O CBT virou símbolo de desmatamento porque é o trator “raiz” usado em operações de grande impacto: forte, barato, resistente e fácil de adaptar para o “correntão”. Mesmo sendo antigo, é um dos preferidos por quem abre áreas, muitas vezes de forma ilegal.

Na busca por seguidores, o Tiktoker corre até para filmar um felino na mata. “Galera do céu, uma onça! Que legal, cara, olha só… olha lá, pintadona!”, narra dizendo ser a primeira vez que vê uma onça pintadal. Sem se intimidar, ele continua filmando e comenta: “Vamos pegar ela”. Mas depois, encerra o registro: “Sumiu, gente”, sem registrar em qual região estava.

O tiktoker se apresenta diante de árvores centenárias, com uma motosserra na mão, ensinando como ligar o equipamento. Em outro vídeo, provoca os seguidores: “Veja a largura dessa árvore, você dá conta? Derrubadorzinho de pé de manga…”provoca.

Com 15,7 mil seguidores e 142 mil curtidas no TikTok, Fabinho disse que parou de fazer postagens, mas não deu detalhes sobre o assunto. Alguns vídeos foram deletados. A busca por fama não é uma tarefa fácil.

Multas do Ibama e processos

Foto: Reprodução

Segundo informações obtidas por meio do Cruzagrafos, a plataforma de investigação da Abraji, e confirmadas no Ibama, Fabinho teve quatro autuações pelo órgão. Além da multa na terra indígena, consta também uma multa em maio de 2023, no valor de R$ 20,5 mil. Antes disso, ele já havia sido autuado em 2013, durante a Operação Jungle II.

Em uma ação judicial de 2018, Fábio Rodrigues é citado em um caso de apreensão de madeira na Serraria São Camilo. Durante a operação, os policiais encontraram 22 m³ de madeira serrada e cerca de 101 toras, somando aproximadamente 333 m³, o equivalente a 11 caminhões carregados.

Acusados no mesmo processo declararam na época que o material pertencia a diversas pessoas, entre elas Fábio Rodrigues Ferreira, que seria um dos responsáveis por levar cerca de 110 toras nos meses anteriores à operação.

Fiscalização digital

O Ibama tem uma linha de investigação em relação à exposição nas redes sociais, fazendo o cruzamento de informações, mas são poucos os servidores que trabalham nesta função. No entanto, de acordo com a Superintendente do Ibama em Mato Grosso, Cibele Xavier Ribeiro, as autuações usando as redes sociais têm sido mais frequentes. “Há operações sendo planejadas visando identificar tanto quem realiza as postagens, como quem compartilha”, informou.

Em abril, outro vídeo viralizou: uma empresa fez publicidade mostrando o uso do correntão, método capaz de derrubar até dez campos de futebol por dia. O Ibama notificou os responsáveis, mas até o início de novembro ainda não havia aplicado multa.

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