Por Josana Salles
O aumento da temperatura das águas, provocado pelo aquecimento global, está colocando em risco espécies de peixes amplamente consumidas no Brasil, como o pacu no Pantanal e o tucunaré na bacia amazônica. O alerta foi feito pelo cientista Adalberto Luis Val, biólogo do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), durante o painel “Biomas Continentais e a Biodiversidade Frente às Mudanças Climáticas”, realizado esta semana na Casa da Ciência, no Museu Goeldi, em Belém (PA), como parte da programação da COP30.
Segundo Val, peixes de escamas são extremamente vulneráveis às alterações de temperatura dos rios, fenômeno intensificado pelas mudanças climáticas globais. Diferentemente dos seres humanos, que regulam a temperatura corporal, esses organismos dependem diretamente do ambiente para manter seus processos metabólicos. “Os peixes não têm controle interno da temperatura corporal. Assim, quando há aumentos significativos na temperatura das águas, os sistemas metabólicos colapsam, levando-os à morte”, explicou.
As pesquisas conduzidas pelo cientista e pela equipe do projeto INCT-Adapta têm investigado a capacidade adaptativa dos peixes amazônicos em um cenário de aquecimento acelerado. Estudos já apontam que espécies como tambaqui, jaraqui e matrinxã, amplamente utilizadas dos estados da Amazônia Legal , estão entre as mais sensíveis às oscilações térmicas.
Temperaturas extremas e risco de extinção

Adalberto Luis Val, biólogo do INPA
As alterações climáticas têm elevado as temperaturas dos rios a níveis alarmantes. Em algumas regiões, já foram registrados valores de até 40°C, tanto na superfície quanto no fundo das águas. Essa condição afeta diretamente grupos de peixes de escamas, como os Caraciformes, que incluem espécies de grande importância comercial.
No Pantanal, o pacu, um dos pilares da culinária local e fonte essencial de proteína para populações ribeirinhas, está seriamente comprometido. “Essas espécies não conseguem regular seus sistemas metabólicos com o aumento da temperatura ambiente. Além disso, a falta de oxigênio nos rios e a redução significativa do nível das águas resultam em mortandades maciças de peixes, contribuindo para a insegurança alimentar”, destacou Val.
O cientista ainda enfatiza que as oscilações térmicas, além de provocar extinções, já estão impactando a disponibilidade de peixes tradicionalmente consumidos pelas comunidades amazônicas e pantaneiras. O efeito recai não apenas sobre os biomas, mas também sobre o sustento, a cultura alimentar e a segurança nutricional de populações que dependem diretamente do pescado.