Com o atual cenário de vegetação seca , quase três meses sem chuva em várias regiões e temperaturas elevadas, o Pantanal mato-grossense está em alerta. Em meio aos incêndios, animais são encontrados mortos no ecossistema. A ausência de água e a vegetação seca provocam desidratação e inanição nos animais, que não conseguem encontrar alimento.
O bioma, considerado a maior planície alagável de água doce do mundo, está secando. Devido à ação humana, as chamas, que deveriam ser causadas apenas por fenômenos naturais, como raios, se intensificam por queimadas criminosas.
Entre as áreas atingidas neste mês de agosto estão a Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Sesc Pantanal, em Barão de Melgaço; a Fazenda Cambarazinho e Porto do Triunfo, em Poconé; além da região da divisa com a Bolívia e em Porto Conceição, em Cáceres.A preocupação é que a situação piore, já que o ambiente está propício a novos incêndios.
“Qualquer incêndio que acontecer neste momento é muito difícil de ser combatido. Qualquer fagulha, qualquer pequeno foco que for iniciado, pode sair do controle”, alerta Weslei Butturi, técnico do Núcleo de Inteligência Territorial do Instituto Centro Vida (ICV).
O número de focos de calor na região do Pantanal em Mato Grosso é menor que em Mato Grosso do Sul, mas nem por isso menos preocupante. De acordo com dados do Instituto Centro Vida (ICV), foram registrados 125 focos de calor em julho, número cinco vezes menor do que em 2020, ano do maior incêndio no bioma, quando foram contabilizados 641 focos no mesmo mês.
No entanto, a região do Pantanal está sob regime de “seca persistente de intensidade extrema a moderada pelo menos nos últimos 12 meses”, conforme a nota técnica do Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (LASA-UFRJ).
As queimadas explodiram em junho, foram reduzidas em julho com ações de combate às chamas, mas voltaram a recrudescer agora em agosto. Ao todo, 661 mil hectares foram consumidos pelas chamas (513 mil hectares em MS e 148 mil em MT), segundo dados da UFRJ. Os números já superam os registrados no mesmo período de 2020, quando houve recorde de devastação no bioma.
De acordo com o documento, desde o final de 2023 e início de 2024, a região apresenta o maior índice de seca já registrado desde 1951, ultrapassando 2020 – até então considerado o ano de maior seca, com base na umidade do solo na região.
“Os incêndios florestais do Pantanal deste ano têm o potencial de se tornarem os piores de todos os tempos. Condições ainda mais quentes são esperadas neste mês e nos próximos meses, e há uma ameaça considerável de que os incêndios no Pantanal possam queimar mais de três milhões de hectares”, afirmou o meteorologista Filippe LM Santos, pesquisador da Universidade de Évora e colaborador da UFRJ, um dos 18 cientistas envolvidos no estudo da WWA.
Especialistas explicam que o aumento exponencial dos focos de incêndio no Pantanal ainda em junho é causado pela antecipação da temporada do fogo, que chegaria só entre o fim de julho e agosto, e a exposição do solo seco.