Dia do Pantanal: alerta a Marina Silva sobre a ameaça ao bioma

Por Josana Salles

O bioma mais alagável do planeta ganhou voz e apelo nas mãos de mulheres que lutam por sua restauração. Em meio às discussões da COP30, em Belém, no Dia do Pantanal,  a Rede Nativas – Mulheres na Restauração Ecológica entregou à ministra Marina Silva a Carta do Pantanal, um pedido direto por ações urgentes de recuperação e proteção das áreas úmidas.

A professora Solange Ikeda, que representa o grupo, relatou a receptividade da ministra. “Estamos na expectativa de fazer esse trabalho de restauração no Pantanal, somado a muito mais gente no Brasil e no planeta pra esse fim”, afirmou.

Outro manifesto, reunindo mais de 500 vozes — entre comunidades tradicionais, povos indígenas, pesquisadores e movimentos sociais —, também será entregue à ministra e a representantes da ONU. O documento alerta para as crescentes ameaças ao bioma, como desmatamento, queimadas, perda da vegetação nativa e a crise hídrica, e propõe a criação de um fundo internacional de restauração ecológica e políticas de bioeconomia sustentável, integrando inovação tecnológica e saberes locais.

A ONG SOS Pantanal lidera uma ampla mobilização para garantir que o bioma esteja na pauta da COP30, em parceria com organizações como a Environmental Justice Foundation, Chalana Esperança e Documenta Pantanal. A iniciativa conta com o apoio de artistas como Lenine, Maria Bethânia e Ney Matogrosso, que emprestaram suas vozes para destacar a importância das áreas úmidas nas agendas climáticas globais.

Segundo Gustavo Figueirôa, diretor de comunicação da SOS Pantanal, conservar e restaurar essas áreas poderia evitar a emissão de até 800 milhões de toneladas de CO₂ por ano, o equivalente a 1,5% das emissões globais. Ele reforça que a perda acelerada das áreas úmidas — que desaparecem até três vezes mais rápido que as florestas — exige respostas urgentes, especialmente diante do papel crucial do Pantanal na regulação climática do planeta.

Dados do Mapbiomas divulgados neste ano reforçam o cenário alarmante: em 2024, o bioma registrou a menor superfície de água dos últimos 30 anos, com uma redução acumulada de 61% em relação à média histórica. Clovis Vailant, do Instituto Gaia e secretário executivo do Pacto pela Restauração do Pantanal, destacou as perdas severas na Bacia do Alto Paraguai, que abastece as sub-bacias do Pantanal no Planalto e na Planície. Essas áreas, responsáveis por sustentar o ciclo hídrico do bioma, sofreram quedas de até 80% na superfície hídrica em algumas regiões.

“Essa redução afeta diretamente a biodiversidade e o modo de vida de povos tradicionais, pescadores artesanais e pequenos produtores rurais, além de comprometer o papel do Pantanal como regulador do clima”, disse Clovis. Ele também alertou para os impactos das Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) e da hidrovia do Rio Paraguai, que alteram a dinâmica hídrica e agravam a perda das áreas alagadas, essenciais para a biodiversidade e os ciclos ecológicos do bioma.

Diante desse cenário, as entidades presentes reafirmaram a importância de a COP30 reconhecer o Pantanal como uma zona estratégica de resiliência climática e reforçaram a necessidade de políticas públicas que garantam a gestão sustentável das águas, a restauração ecológica e a proteção das comunidades locais.

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