Por Josana Salles
Em anúncio de repercussão para a agenda ambiental, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) revelou nesta quinta-feira que o desmatamento na Amazônia caiu 11% em 2025. Os dados, provenientes do sistema Prodes do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), mostram que as derrubadas no bioma somaram 5.796 km², a menor extensão em 11 anos e a terceira menor da série histórica.
No entanto, em meio à tendência positiva, Mato Grosso destoou: foi o único estado da Amazônia Legal a registrar aumento no desmatamento, com 1.572 km² derrubados – alta de 25,05% em relação ao período anterior.
A boa notícia da redução geral também se estende ao Cerrado, que teve queda de 11,5% no desmatamento, totalizando 7.235 km² de novas áreas abertas após o pico de 2023. O anúncio, feito pela ministra Marina Silva em Brasília, a apenas onze dias da abertura da Conferência do Clima (COP30) em Belém, reforça a estratégia do governo de posicionar o Brasil como líder global na agenda de combate ao desmatamento.

Fonte: MMA/ reprodução
Queda histórica na Amazônia e desafios pontuais
Os números da Amazônia são expressivos, especialmente quando comparados a períodos recentes. Em 2021, sob a gestão anterior, a área desmatada atingiu 13.038 km² — valor superior à soma dos resultados de 2024 e 2025. Em 2022, ainda eram 11.594 km².
A ministra Marina Silva celebrou a reversão da trajetória de alta. “Nosso objetivo é liderar pelo exemplo. Então, a resposta é diminuir o desmatamento. Nem nos meus melhores planos imaginaria que chegaríamos a este momento com uma redução de 50% na Amazônia em relação a 2022”, afirmou.
A análise apresentada por Claudio Almeida, coordenador do Programa BiomasBR do Inpe, mostra que a maior parte do desmatamento registrado neste ano ocorreu na categoria de degradação progressiva, que inclui corte seletivo e queimadas. Já o corte raso, remoção total da cobertura florestal , somou 2.203 km².
André Lima, secretário extraordinário de Controle do Desmatamento e Ordenamento Ambiental Territorial do MMA, destacou que os números poderiam ter sido ainda melhores. “Não fossem os incêndios do ano passado, estaríamos numa trajetória muito forte de queda, superior a 30%”, ponderou.
A maioria dos estados da Amazônia Legal registrou reduções significativas: Tocantins (-62,5%), Amapá (-48,15%), Roraima (-37,39%), Rondônia (-33,61%), Acre (-27,62%), Maranhão (-26,06%), Amazonas (-16,93%) e Pará (-12,40%). O aumento em Mato Grosso acende alerta sobre a necessidade de políticas e fiscalização específicas na região.
Em nota, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente (Sema-MT) afirmou que os dados do Prodes/Inpe indicam que Mato Grosso mantém redução significativa do desmatamento em relação à média histórica dos últimos dez anos. Segundo a pasta, o estado apresenta redução de 86% em comparação ao pico de 2004.

Fonte:MMA/ reprodução
Cerrado: alívio geral e foco no Matopiba
No Cerrado, após o pico de 11.011 km² em 2023, o desmatamento caiu para 7.235 km² em 2025 — redução de 11,5%. Segundo o Inpe, a maior parte das áreas abertas se concentra no Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), responsável por mais de 70% dos registros nos últimos três anos, chegando a 77,9% em 2024/2025, conforme dados do Programa BiomasBR.
O ranking regional é liderado pelo Maranhão (28% e 2.006 km²) e por Tocantins (21% e 1.489 km²). As maiores altas ocorreram no Piauí (+33,1%) e na Bahia (+9,3%), enquanto Tocantins e Maranhão registraram reduções de 26,2% e 19,3%, respectivamente.
Desmatamento zero
O Observatório do Clima classificou os resultados como uma “conquista da sociedade brasileira”, por demonstrar que a meta de desmatamento zero é factível.
“O desmatamento zero está ao alcance e só depende de o governo e a sociedade quererem chegar lá. A atual administração assumiu com uma alta de 50% nos alertas no último semestre de 2022, após quatro anos de descontrole deliberado, e devolveu a devastação aos mesmos patamares de redução do período 2011-2014, mesmo após o recorde de queimadas de 2024. De quebra, reverteu a alta no Cerrado, que registrou o segundo ano consecutivo de queda. É uma prova de que a cesta de políticas públicas criadas sob a batuta de Marina Silva no primeiro governo Lula ainda funciona”, afirmou a entidade.
A análise reforça que a reversão do desmatamento na Amazônia e a queda no Cerrado resultam de uma combinação de esforços e políticas. Apesar dos desafios em estados como Mato Grosso e Piauí, os dados dão impulso às discussões da COP30, na qual o Brasil buscará reafirmar sua liderança global na agenda climática. A continuidade da fiscalização e a adaptação das políticas regionais serão decisivas para consolidar os avanços e enfrentar os desafios ainda presentes.

Fonte: MMA/reprodução