COP30: produtores, sociedade civil e governo de MT destacam avanços e traçam desafios
Por Josana Salles
A COP30, realizada em Belém, consolidou compromissos para Mato Grosso e abriu novas frentes de debate sobre a política climática brasileira. Representantes do setor produtivo, da sociedade civil e do governo avaliaram que o encontro teve avanços, mas também revelou desafios que exigem continuidade e articulação.
Um dos pontos é a chamada agenda informal do governo brasileiro, destacada pelo Instituto Centro de Vida (ICV). O conjunto de ações reforça metas como a redução do uso de combustíveis fósseis, o combate ao desmatamento e a construção de uma transição energética mais robusta.
Do lado do agronegócio, o vice-presidente da Aprosoja, Luiz Pedro Bier, destacou o lançamento da Carta-Manifesto dos Produtores de Soja do Brasil, que propõe uma agenda climática tropical e mudanças nas métricas ambientais. “Ela foi lançada na COP30, mas é algo que ainda precisará ser trabalhado nos próximos anos, para que possamos angariar pessoas que pensem da mesma forma que nós”, afirmou. Para Bier, a conferência representou o início de um movimento mais amplo. “Foi um pontapé inicial para um trabalho de longo prazo, com articulação e argumentação.”
Para a sociedade civil, a COP trouxe avanços moderados, mas relevantes. A diretora executiva do ICV, Alice Thuault, considerou o evento positivo, embora reconheça que o texto final ficou aquém das expectativas. “Não foi a COP dos milagres, mas talvez a COP da verdade. A manutenção do espaço de diálogo e de uma agenda de trabalho contínua já é um ganho importante”, disse.
Thuault também destacou o simbolismo e o impacto de sediar o evento em Belém, no coração da Amazônia. Mesmo com limitações de infraestrutura e segurança, ela apontou que a localização favoreceu a reconexão entre atores diversos, entre organizações da sociedade civil, movimentos indígenas e parceiros locais. “Voltamos empolgados ao ver uma sociedade civil forte, criativa e preparada para os desafios que virão”, afirmou.
A participação dos pequenos negócios também foi ressaltada pelo diretor técnico do Sebrae/MT, André Schelini. Ele lembrou que micro e pequenas empresas podem ter papel relevante na agenda de baixo carbono. “A COP30 foi mais uma demonstração do compromisso do Sebrae com a agenda climática”, afirmou. Schelini destacou o trabalho do Centro Sebrae de Sustentabilidade, responsável por metodologias de descarbonização e economia circular. “Levamos iniciativas concretas que estimulam a inclusão dos pequenos negócios nesse processo.”
Apesar de Mato Grosso ser o único estado da Amazônia Legal a registrar aumento no desmatamento (25,6%) no último ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a secretária de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti, avaliou que o estado cumpriu seu papel ao apresentar avanços e firmar acordos estratégicos. Entre os compromissos, destacou a meta de eliminar o desmatamento ilegal até 2030 e o projeto-piloto de monitoramento de créditos de carbono em parceria com a SCCON Geospatial.
Ela reconheceu, contudo, que os desafios ainda são grandes. “Os compromissos assumidos são importantes, mas insuficientes diante da escala dos problemas, especialmente no financiamento”, pontuou.
O governo estadual firmou uma Carta de Intenções com a Emergent, organização que conecta jurisdições que reduzem desmatamento a compradores internacionais de créditos de carbono. O acordo abre caminho para que o estado acesse financiamento climático em larga escala, fortaleça iniciativas de REDD+ jurisdicional e, ainda, destine recursos à recuperação de áreas degradadas.