COP30: ONGs, agro e governo de MT na disputa por protagonismo climático

Por Josana Salles

A poucos dias da COP30, que começa em 11 de novembro em Belém, aumentam as expectativas sobre o papel de Mato Grosso nas discussões climáticas. ONGs planejam apresentar propostas e denunciar retrocessos, como a Lei da Pesca, enquanto empresas como a Amaggi vão levar projetos sustentáveis. O governo estadual, porém, chega pressionado: foi o único da Amazônia Legal com aumento no desmatamento em 2025, alta de 25%, segundo o Inpe. No estado, a participação no evento não foi debatida entre governo e sociedade civil, apesar da importância da conferência para a agenda ambiental e econômica

As principais organizações ambientais veem a COP30 como um momento decisivo para avançar no combate às mudanças climáticas. Alice Thuault, diretora executiva do Instituto Centro de Vida (ICV), destaca que um dos maiores desafios globais é o financiamento climático, tema ainda sem solução clara em edições anteriores da conferência. O ICV, que já participou de 14 Conferências do Clima, defende que ampliar a transparência e resolver divergências sobre critérios e valores desses recursos será essencial. As prioridades do ICV incluem:

  • Proteção das florestas e dos biomas brasileiros,  Mato Grosso é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE) no Brasil e possui 60 mil hectares passíveis de desmatamento legal;
  • Promover cadeias produtivas livres de desmatamento, como parte de uma transição para uma economia sustentável;
  • Assegurar a participação de povos indígenas e comunidades tradicionais nas soluções climáticas;
  • Avançar em iniciativas como restauração florestal  e mitigações na pecuária.

Foto: ICV

As prioridades do instituto incluem a proteção das florestas e dos biomas brasileiros, lembrando que Mato Grosso é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa no país e possui 60 mil hectares passíveis de desmatamento legal. Também estão na pauta a promoção de cadeias produtivas livres de desmatamento, o incentivo à restauração florestal e à mitigação na pecuária, além da participação efetiva de povos indígenas e comunidades tradicionais nas soluções climáticas.

O Fórum Popular Socioambiental de Mato Grosso (Formad) traz um olhar voltado às populações vulneráveis, como pescadores, ribeirinhos, indígenas e quilombolas. O principal objetivo do fórum na COP30 é defender a Justiça Climática, dando voz a quem menos contribui para o problema climático, mas sofre os maiores impactos. Segundo Herman Oliveira, secretário executivo do grupo, temas como a Lei da Pesca, que afeta a subsistência de milhares de famílias, e o fortalecimento de redes comunitárias devem ganhar destaque, especialmente na Cúpula dos Povos, espaço alternativo à conferência oficial onde movimentos sociais debatem os efeitos do sistema econômico. Mais de dez ONGs de Mato Grosso estarão presentes na COP30.

Agro Sustentável

A Amaggi, maior empresa brasileira de grãos, vê na COP30 a oportunidade de liderar debates sobre a contribuição do agronegócio para a redução de emissões e a preservação dos biomas. Juliana Lopes, diretora de ESG da companhia, afirma que até 80% das reduções globais de emissões podem vir desse setor, graças a práticas de descarbonização que já vêm sendo aplicadas e aprimoradas. Os destaques são:

  • O programa Amaggi Regenera, voltado para a promoção da agricultura regenerativa, restauração do solo e redução das emissões de gases de efeito estufa;
  • A meta de atingir emissões líquidas zero até 2050, reforçando o compromisso com tecnologias de rastreabilidade ambiental e processos de produção sustentável;
  • Parcerias com instituições como Embrapa e IPAM, que ajudam a promover e disseminar boas práticas entre os produtores rurais.

“A transição para uma economia de baixo carbono com alta produtividade é algo tangível, e queremos reforçar que o agronegócio brasileiro está preparado para liderar essa mudança sem abrir mão da competitividade econômica”, afirmou Juliana Lopes.

Fazenda Itamarati, em Campo Novo do Parecis/ Foto: divulgação

Governo e o aumento do desmatamento

Mato Grosso chega à COP30 com um misto de cobranças e expectativas. Enquanto reforça seu compromisso com a sustentabilidade por meio de iniciativas como a PCI (Produzir, Conservar e Incluir) e o Programa Carbono Neutro 2035, terá de enfrentar questionamentos sobre o aumento de 25% na taxa de desmatamento em 2025, cenário oposto ao dos demais estados da Amazônia Legal, que apresentaram queda. O contexto coloca o estado em uma posição delicada, já que os números enfraquecem sua credibilidade ao propor um modelo alinhado com a conservação ambiental e a produção sustentável.

A secretária estadual de Meio Ambiente, Mauren Lazzaretti, busca utilizar o evento para defender a necessidade de maior investimento internacional como ferramenta de apoio à transição sustentável. Segundo ela, as críticas ao Brasil, e especificamente a Mato Grosso, nem sempre consideram o contexto local nem o papel dos países desenvolvidos no problema global. China, Estados Unidos, União Europeia, Rússia e Índia são responsáveis por mais de 50% das emissões globais de gases de efeito estufa e, segundo Lazzaretti, não possuem compromissos financeiros à altura de suas responsabilidades.

Entre as principais ações que Mato Grosso levará para a COP30, estão:

  • PCI – Produzir, Conservar e Incluir, uma política pioneira que alia produção sustentável à conservação e inclusão social;
  • Políticas estruturantes do Programa Carbono Neutro 2035, incluindo redução de desmatamento, restauração florestal e fomento ao cultivo de biocombustíveis;
  • Projetos como o Todos pelo Araguaia e o REM Mato Grosso, que evidenciam exemplos concretos de preservação e desenvolvimento inclusivo.

Lazzaretti defende que a narrativa de embargos econômicos contra países produtores deve ser substituída por incentivos e investimentos verdes. “Os recursos que o próprio estado de Mato Grosso aplica são infinitamente maiores do que qualquer aporte internacional recebido até agora. É essencial que os grandes emissores globais cumpram suas obrigações financeiras de forma concreta”, reforça. Ainda assim, os resultados recentes do desmatamento devem ser o principal ponto de pressão durante o evento.

Estrutura do evento

A COP30 posiciona o Brasil no centro do debate climático global, com especial atenção à Amazônia e à relação do agronegócio com a preservação ambiental. A estrutura da conferência divide as interações entre a Zona Azul, destinada às negociações oficiais entre delegações, e a Zona Verde, aberta à sociedade civil, setor privado e governos, ampliando o diálogo sobre soluções sustentáveis.

Todos os setores pretendem usar a COP30 não apenas como espaço de apresentação de propostas, mas como momento de reavaliar práticas e assumir compromissos mais concretos e transparentes diante da crise climática.

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