Coco vira carvão para ser usado em fertilizante orgânico em MT

Por Adriana Mendes

Do alto de um monte de cascas de coco com cerca de quatro metros de altura, o empresário e engenheiro agrônomo Paulo Teodoro mostra entusiasmo. O resíduo do coco agora é usado na composição de fertilizante orgânico. O próximo passo é a produção em larga em Cuiabá (MT), onde o consumo diário de coco chega a 50 toneladas e o descarte da casca virou um desafio ambiental.

O biochar, conhecido como “carvão do coco”, é uma solução sustentável que reaproveita a fruta, geralmente descartada como lixo após a retirada da água. Visitamos a indústria de reciclagem, de 20 hectares, na estrada da Guia, para conhecer o processo. “Todo esse coco aqui será transformado em fertilizante orgânico de alta qualidade, que vai contribuir com a recuperação de solo e, com isso, vamos diminuir a pressão por desmatamento”, afirmou o empresário, da Bioativa Indústria de Fertilizantes. Parte do resíduo orgânico que iria para o aterro sanitário agora é utilizado para economia circular com foco na produção da baixada cuiabana.

Por meio da pirólise (aquecimento em alta temperatura sem oxigênio), o resíduo vira uma “areia” capaz de melhorar a qualidade do solo, reter água e nutrientes, e ajuda na incorporação do carbono. Se o material fosse deixado, por exemplo, para decomposição inadequada em aterros, poderia gerar uma emissão significativa de carbono e metano, gases que contribuem diretamente para o efeito estufa. “Essa é a mágica desta transformação, trazer uma tecnologia que vai ser útil e de responsabilidade social diferenciada”.

O empreendedor explicou também que o projeto de criação do produto foi desenvolvido com apoio do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), em parceria com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) e a Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), para definir a “curva de carbonização” – processo que permite obter um biochar de melhor qualidade. “O Sebrae entra nessa parceria com foco em inovação e pesquisa, e isso foi fundamental para nossa decisão”, afirmou.

Produção do fertilizante 

Área da indústria de compostagem de Cuiabá (MT). Foto: Adriana Mendes

No pátio, além do coco, tem também os montes de resíduos que compõe o fertilizante final: resíduos da agroindústria, cinza de caldeira, galhos e restos de podas de árvores, palha de arroz, tudo vira compostagem biotecnológica que se transforma em fertilizante orgânico. No local, chegam cerca de 120 toneladas de resíduo orgânico por dia. Há também todo um cuidado com a  água da chuva usada no processo, que contém a  Wolffia, planta aquática que eleva o nível de nitrogênio na compostagem e melhora a qualidade do fertilizante.

Segundo o empresário, a ideia de transformar o coco em “carvão” surgiu como alternativa ao carvão vegetal, que é comprado para compor o fertilizante. Com a pesquisa, ele descobriu que o “carvão do coco” – o biochar, além de mais sustentável, agrega ainda mais valor ao produto final. Diferente do que se costuma encontrar em usinas de reciclagem, o local tem ar limpo.

Para o Sebrae, o biochar se destaca como uma prática sustentável. “É um exemplo claro de economia circular, com 100% de reaproveitamento em todas as fases do produto e fornece uma alternativa natural aos compostos químicos que são utilizados nos fertilizantes mais vendidos e que, muitas vezes, agridem o meio ambiente”,  afirma  a gerente do Centro Sebrae de Sustentabilidade, Patrícia Pedrotti.

Para ela, o Sebrae e a cooperação de outras instituições, como a Embrapa e a Embrapii, são fundamentais para que “ideias como essa saiam do papel e se tornem uma solução significativa para os problemas ambientais causados pelos resíduos”. Pedrotti também destaca que o projeto é apoiado pelo Sebrae Nacional, que tem como prioridade buscar parcerias em trabalhos que desenvolvam soluções que colaborem para uma inovação sustentável. “É um exemplo de como a instituição é pautada pelo empreendedorismo sustentável com foco na economia verde”.

Nas redes sociais, a Fazenda Indiana, de Santo Antônio de Leverger, mostrou o resultado usando o fertilizante da terra com a compostagem orgânica. “A massa do capim está diferente, está mais escura, aqui está mais bonito e incorporou mais rápido”, disse Alex Moraes, funcionário.

O “carvão do coco” já integra o produto final. O próximo passo, com investimento de R$ 1 milhão, é a instalação de uma fábrica para produção em larga escala. A proposta é adotar um sistema inovador, sem emissão de fumaça. A produção inicial, apenas do biochar, deve ficar entre cinco a 10 toneladas por mês até o final do ano.

Aba agricultura Biotiva – foto aérea/Divulgação

 

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